domingo, 28 de junho de 2015

Carta aberta em resposta

Caríssimo Sr..................
Antes de mais gostaria de cumprimentar vossa excelência, com um grande bem-haja.
Pois tenho para mim que educação é algo que se aprende no berço, apesar do meu não ter sido abastado, foram me ensinados alguns princípios, que felizmente para mim não me deixam resvalar para a falta de respeito para com os outros, sejam eles “humanos” ou “bestas”, tratando todos com igual “nobreza” e “dignidade”.
 Espero que não estranhe a minha linguagem, ainda estou a tentar habituar-me, mas pareceu-me bem escrever utilizando a sua linguagem, assim será de mais fácil entendimento para a sua pessoa.  
Deverá estar o Sr. perplexo desta minha missiva, pois talvez na mesma medida que eu fiquei com o seu artigo de opinião intitulado “ Mercenarismos versus comportamento ético”. No entanto li todo, mais do que uma vez e com muita atenção.
Gostaria de começar, por lhe agradecer o tempo que despendeu a pensar na minha pessoa enquanto fonte de inspiração para o seu artigo, senti-me importante, aliás foi-me atribuída uma importância que sempre tentaram encobrir enquanto fui sua “propriedade”. Sim porque eu não sabia mas pelos vistos fui sua “propriedade”, pois percebi agora, na leitura da sua rabula que para si todos os seus empregados têm um “dono”.
Como deve de calcular, não lhe estou a responder porque tenha ficado satisfeito, no entanto devo desde já alertar que nada mas mesmo nada do que li, assinado por si se aplica à minha pessoa. Respondo porque me considero uma pessoa justa, honesta e de carácter, talvez seja presunção da minha parte, mas sou assim. Porque há algumas imprecisões no que escreveu, onde eu talvez possa ajudar. Porque fez alguns juízes de valor para os quais não lhe reconheço autoridade pela falta de coerência demostrada e acima de tudo porque gosto muito de escrever.
Primeira correcção: Uma citação é sempre colocada dentro de aspas,”…porque conheço o mal do meu reino,…”.
Segunda correcção: O significado da palavra “Mercenário”. Como o Sr. bem sabe, todas as palavras aplicáveis na língua Portuguesa, tem significados definidos. Não há qualquer dicionário de língua Portuguesa que atribua à palavra “Mercenário” o significado que tenta fazer impor na sua dissertação. O mais próximo, será mesmo: “ Que ou aquele que trabalha ou serve por dinheiro”.
 Ora pois bem, aqui há um grande imbróglio. Em circunstâncias normais, faria de todas as pessoas que trabalham e recebem por isso, mercenários. No entanto tendo em conta o seu raciocínio, “todo o trabalhador pertence a uma entidade”, “…mudam de dono como quem muda de camisa”, fico sem saber o que fui afinal enquanto estive vinculado à empresa da qual preside ao concelho de administração. Fui trabalhador assalariado? O que faria de mim um mercenário! Ou fui propriedade da empresa? O que me tornaria “um mero produto transacionável!
Mas afinal o que é o Sr. e os restantes membros do concelho de administração? Não são também mercenários? É que me quer cá parecer, não é que os conheça bem pois só nos relacionamos durante quase 18 anos, que não há muita gente que goste mais de ganhar de dinheiro a qualquer custo que vossas excelências!
Terceira correção: Tanto eu, como nas demais que conheço e que saíram da empresa, durante o meu percurso na mesma, nenhuma das pessoas que saiu por vontade própria, nem mesmo os que formam dispensados, ficou pior do que estava ao serviço da sua empresa. Nenhuma das pessoas em causa “cavou fossos, afastou amizades ou matou a confiança”, só mesmo com os “donos” e vá se lá saber porquê! Eu por exemplo, continuo a ter um óptimo e constante relacionamento com os meus ex-colegas. Obviamente é que só me relaciono com os que me são mais próximos, com aqueles que partilham os mesmos interesses que eu. Digamos que separei o “trigo do joio”.
Quarta correção: A incoerência no discurso! Então os mercenários, são “gente sem ideais”, que “padecem de perturbação mental… disfuncionamento psicológico e emocional” ou “bactérias infecciosas” que até são “pessoas dotadas” capazes de “avinagrar” os “servos e escravos fiéis do filho da mãe do patrão”? Fiquei confuso!
Bem vou acabar com as correções, já lhe estou a dar dicas a mais e ainda só corrigi o primeiro parágrafo!
Vou agora tentar situa-lo, pois quer me parecer que anda ou pouco desfasado da realidade! Vou só abordar o meu caso, porque é o único que conheço ao pormenor, não tenho por hábito falar do que desconheço, embora conheça!
Eu saí da sua empresa porque o responsável pelo departamento técnico e CEO da mesma, QUIS! Sim leu bem, eu só deixei a sua empresa porque a Administração da mesma assim o desejou.  Antes de apresentar a minha demissão, falei pessoalmente com ele no último ano, pelo menos 3 vezes. Em nenhuma das conversas que tivemos manifestou interesse na minha continuidade! Em nenhuma das conversas que tivemos revelou algum interesse pelas questões que lhe apresentei e que eram os meus motivos de desagrado. Não houve uma única vez, que me tenha dito, que não eram razoáveis os meus motivos, muito pelo contrário, prometendo sempre a solução dos mesmos para a próxima ”season”.
Cansei! Cansei de ser usado! Cansei de ser explorado! Cansei de ser tratado “como um mero produto transacionável”! Cansei de trabalhar pro bono! Cansei de ver e presenciar as injustiças, entre os que efectivamente defende “a camisola” da sua empresa e aqueles que são uns meros joguetes que sorriem pela frente e espetam as farpas por trás! Não é e espero nunca ser a minha forma de estar na vida!
Não sabe, mas eu vou-lhe dizer. Se eu tivesse como única “ambição vender-me a quem paga mais”, nunca teria ido trabalhar para a sua empresa. Pois fui para ai a convite, como todas as mudanças que fiz até agora, e fui ganhar muito menos do que ganhava na anterior. Mas mesmo que tivesse entrado com esse propósito, teria permanecido muito pouco tempo, pois felizmente para mim, graças ao meu empenho, dedicação, qualidades profissionais e morais, foram alguns os convites que recebi para mudar de equipa. Qualidades essas que me mantiveram como sua “propriedade” durante tantos anos, pois se assim não fosse teria tido o mesmo caminho dos outros “carneiros” a quem fez o favor de dispensar/despedir porque não lhe rendiam o que pretendia, porque eram “colaboradores com um combustível diferente”.
Parecem-me também desfasados os seus raciocínios sobre motivação e ética. Sei que é um self-made-man, no entanto tendo em conta as responsabilidades que é suposto assumir, deveria ter tido um bocadinho de mais cuidado na leitura dos manuais de gestão. Está escrito em todos os bons manuais que qualquer trabalhador motivado rende muito mais que os que desmotivados! Até os meus filhos já sabem isso, como é que o Sr. se deixou ficar para trás? O tempo do chicote, da ameaça, da chantagem e da calúnia para obrigar as pessoas a fazer o que se pretende, terminou com a revolução industrial, bem sei que Portugal anda um pouco atrasado, mas não tanto assim.
Sobre “comportamentos éticos”,” lealdade”, “integridade”, “preceitos morais” e “respeito”. Aconselho seriamente a leitura de um dicionário de qualidade média da nossa língua portuguesa, pois pelo conhecimento que tenho quer me parecer ser desconhecedor em absoluto do significado dos substantivos.
Por ultimo e porque já perdi mais tempo consigo do que pretendia, gostaria do aconselhar a ter um bocadinho mais de tento nas palavras, quando escreve sobre terceiros, sobretudo sobre desconhecidos. Lá porque tem uma coluna numa revista, que pelos visto é muito mal vista no meio a propósito dos mesmos artigos, seria de melhor tom para si, tendo em conta a sua proveta idade e para a sobrevivência da dita revista, que deixasse de usar o espaço em questão para lavar roupa suja, ou para carpir magoas de assuntos que não conseguiu resolver como “humano”.
Vou acabar esta missiva, com uma citação, entenda-a como lhe convir mais, sei que quem a proferiu não tem qualidades para a proferir, no entanto parece-me adequada para este final.
“É costume dizer-se que as pessoas valem por aquilo que sabem, falam e pensam, mas, sobretudo, pela forma como se comportam.”
Cumprimentos….sempre a considerar!

P.S.- Tem que melhorar o seu português, escreve como o Saramago, mas em mau!

1 comentário:

  1. Tal como dizem os entendidos, nós só nos conseguimos motivar a nós próprios, mas podemos criar as condições mais propícias para gerar motivação nos colaboradores que fazem parte da nossa equipa.
    Por outro lado, o desenvolvimento profissional das pessoas que trabalham connosco pode constituir um motivo de orgulho se de alguma forma contribuímos para isso e não uma causa de desapontamento, até porque as pessoas não são insubstituíveis e têm direito a prosseguir os seus objetivos.

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