Caríssimo Sr..................
Antes de mais gostaria de cumprimentar vossa excelência, com
um grande bem-haja.
Pois tenho para mim que educação é algo que se aprende no
berço, apesar do meu não ter sido abastado, foram me ensinados alguns
princípios, que felizmente para mim não me deixam resvalar para a falta de
respeito para com os outros, sejam eles “humanos” ou “bestas”, tratando todos
com igual “nobreza” e “dignidade”.
Espero que não
estranhe a minha linguagem, ainda estou a tentar habituar-me, mas pareceu-me
bem escrever utilizando a sua linguagem, assim será de mais fácil entendimento
para a sua pessoa.
Deverá estar o Sr. perplexo desta minha missiva, pois talvez
na mesma medida que eu fiquei com o seu artigo de opinião intitulado “
Mercenarismos versus comportamento ético”. No entanto li todo, mais do que uma
vez e com muita atenção.
Gostaria de começar, por lhe agradecer o tempo que despendeu
a pensar na minha pessoa enquanto fonte de inspiração para o seu artigo,
senti-me importante, aliás foi-me atribuída uma importância que sempre tentaram
encobrir enquanto fui sua “propriedade”. Sim porque eu não sabia mas pelos
vistos fui sua “propriedade”, pois percebi agora, na leitura da sua rabula que
para si todos os seus empregados têm um “dono”.
Como deve de calcular, não lhe estou a responder porque
tenha ficado satisfeito, no entanto devo desde já alertar que nada mas mesmo
nada do que li, assinado por si se aplica à minha pessoa. Respondo porque me
considero uma pessoa justa, honesta e de carácter, talvez seja presunção da
minha parte, mas sou assim. Porque há algumas imprecisões no que escreveu, onde
eu talvez possa ajudar. Porque fez alguns juízes de valor para os quais não lhe
reconheço autoridade pela falta de coerência demostrada e acima de tudo porque
gosto muito de escrever.
Primeira correcção: Uma citação é sempre colocada
dentro de aspas,”…porque conheço o mal do meu reino,…”.
Segunda correcção: O significado da palavra
“Mercenário”. Como o Sr. bem sabe, todas as palavras aplicáveis na língua Portuguesa,
tem significados definidos. Não há qualquer dicionário de língua Portuguesa que
atribua à palavra “Mercenário” o significado que tenta fazer impor na sua
dissertação. O mais próximo, será mesmo: “ Que ou aquele que trabalha ou serve
por dinheiro”.
Ora pois bem, aqui há
um grande imbróglio. Em circunstâncias normais, faria de todas as pessoas que
trabalham e recebem por isso, mercenários. No entanto tendo em conta o seu
raciocínio, “todo o trabalhador pertence a uma entidade”, “…mudam de dono como
quem muda de camisa”, fico sem saber o que fui afinal enquanto estive vinculado
à empresa da qual preside ao concelho de administração. Fui trabalhador
assalariado? O que faria de mim um mercenário! Ou fui propriedade da empresa? O
que me tornaria “um mero produto transacionável!
Mas afinal o que é o Sr. e os restantes membros do concelho
de administração? Não são também mercenários? É que me quer cá parecer, não é
que os conheça bem pois só nos relacionamos durante quase 18 anos, que não há
muita gente que goste mais de ganhar de dinheiro a qualquer custo que vossas
excelências!
Terceira correção: Tanto eu, como nas demais que
conheço e que saíram da empresa, durante o meu percurso na mesma, nenhuma das
pessoas que saiu por vontade própria, nem mesmo os que formam dispensados,
ficou pior do que estava ao serviço da sua empresa. Nenhuma das pessoas em
causa “cavou fossos, afastou amizades ou matou a confiança”, só mesmo com os
“donos” e vá se lá saber porquê! Eu por exemplo, continuo a ter um óptimo e
constante relacionamento com os meus ex-colegas. Obviamente é que só me
relaciono com os que me são mais próximos, com aqueles que partilham os mesmos
interesses que eu. Digamos que separei o “trigo do joio”.
Quarta correção: A incoerência no discurso! Então os
mercenários, são “gente sem ideais”, que “padecem de perturbação mental…
disfuncionamento psicológico e emocional” ou “bactérias infecciosas” que até
são “pessoas dotadas” capazes de “avinagrar” os “servos e escravos fiéis do
filho da mãe do patrão”? Fiquei confuso!
Bem vou acabar com as correções, já lhe estou a dar dicas a
mais e ainda só corrigi o primeiro parágrafo!
Vou agora tentar situa-lo, pois quer me parecer que anda ou
pouco desfasado da realidade! Vou só abordar o meu caso, porque é o único que
conheço ao pormenor, não tenho por hábito falar do que desconheço, embora
conheça!
Eu saí da sua empresa porque o responsável pelo departamento
técnico e CEO da mesma, QUIS! Sim leu bem, eu só deixei a sua empresa porque a
Administração da mesma assim o desejou. Antes de apresentar a minha demissão, falei
pessoalmente com ele no último ano, pelo menos 3 vezes. Em nenhuma das
conversas que tivemos manifestou interesse na minha continuidade! Em nenhuma
das conversas que tivemos revelou algum interesse pelas questões que lhe
apresentei e que eram os meus motivos de desagrado. Não houve uma única vez,
que me tenha dito, que não eram razoáveis os meus motivos, muito pelo
contrário, prometendo sempre a solução dos mesmos para a próxima ”season”.
Cansei! Cansei de ser usado! Cansei de ser explorado! Cansei
de ser tratado “como um mero produto transacionável”! Cansei de trabalhar pro
bono! Cansei de ver e presenciar as injustiças, entre os que efectivamente
defende “a camisola” da sua empresa e aqueles que são uns meros joguetes que
sorriem pela frente e espetam as farpas por trás! Não é e espero nunca ser a
minha forma de estar na vida!
Não sabe, mas eu vou-lhe dizer. Se eu tivesse como única
“ambição vender-me a quem paga mais”, nunca teria ido trabalhar para a sua
empresa. Pois fui para ai a convite, como todas as mudanças que fiz até agora,
e fui ganhar muito menos do que ganhava na anterior. Mas mesmo que tivesse
entrado com esse propósito, teria permanecido muito pouco tempo, pois
felizmente para mim, graças ao meu empenho, dedicação, qualidades profissionais
e morais, foram alguns os convites que recebi para mudar de equipa. Qualidades essas
que me mantiveram como sua “propriedade” durante tantos anos, pois se assim não
fosse teria tido o mesmo caminho dos outros “carneiros” a quem fez o favor de
dispensar/despedir porque não lhe rendiam o que pretendia, porque eram
“colaboradores com um combustível diferente”.
Parecem-me também desfasados os seus raciocínios sobre
motivação e ética. Sei que é um self-made-man, no entanto tendo em conta as
responsabilidades que é suposto assumir, deveria ter tido um bocadinho de mais
cuidado na leitura dos manuais de gestão. Está escrito em todos os bons manuais
que qualquer trabalhador motivado rende muito mais que os que desmotivados! Até
os meus filhos já sabem isso, como é que o Sr. se deixou ficar para trás? O
tempo do chicote, da ameaça, da chantagem e da calúnia para obrigar as pessoas
a fazer o que se pretende, terminou com a revolução industrial, bem sei que
Portugal anda um pouco atrasado, mas não tanto assim.
Sobre “comportamentos éticos”,” lealdade”, “integridade”,
“preceitos morais” e “respeito”. Aconselho seriamente a leitura de um
dicionário de qualidade média da nossa língua portuguesa, pois pelo
conhecimento que tenho quer me parecer ser desconhecedor em absoluto do
significado dos substantivos.
Por ultimo e porque já perdi mais tempo consigo do que
pretendia, gostaria do aconselhar a ter um bocadinho mais de tento nas
palavras, quando escreve sobre terceiros, sobretudo sobre desconhecidos. Lá
porque tem uma coluna numa revista, que pelos visto é muito mal vista no meio a
propósito dos mesmos artigos, seria de melhor tom para si, tendo em conta a sua
proveta idade e para a sobrevivência da dita revista, que deixasse de usar o
espaço em questão para lavar roupa suja, ou para carpir magoas de assuntos que
não conseguiu resolver como “humano”.
Vou acabar esta missiva, com uma citação, entenda-a como lhe
convir mais, sei que quem a proferiu não tem qualidades para a proferir, no
entanto parece-me adequada para este final.
“É costume dizer-se que as pessoas valem por aquilo que
sabem, falam e pensam, mas, sobretudo, pela forma como se comportam.”
Cumprimentos….sempre a considerar!
P.S.- Tem que melhorar o seu português, escreve como o
Saramago, mas em mau!