quarta-feira, 19 de maio de 2010

Diferenças

Mais uma viagem a Africa, mais uma serie de experiências e vivências, que vão fazendo com que eu esteja como o vinho do Porto! O paralelismo tem a ver com o facto de ambos nos deixarmos transformar, ambos absorvermos o que está à nossa volta.
A primeira vez na Costa do Marfim (Cotê de Ivoire). Cada dia que passa sou surpreendido! Em minha opinião o que torna um local mais aprazivel ou não, não é só a beleza natural do proprio local, são sobretudo as pessoas. São elas que quando são “belas” tornam o que as rodea mais belo. A Costa do Marfim é assim. O local é bonito, as condições naturais fazem com que a paisagem seja muito verde, as arvores e a vegetação rasteira é muito viçosa, há vida por todo o lado. A grande diferença em relação a Luanda é que em Abidjan é uma cidade muito mais civilizada, muito mais perto da Europa, não só na distância fisica mas essêncialmente na distancia cultural.
Em Luanda eu sinto medo, não me sinto seguro, sei que há inumeras regras que tenho que cumprir, a minha liberdade é restringida por todas as regras de segurança que tem que fazer parte do meu quotidiano. Acredito que haja pessoas a quem essas regras não façam “confusão”, que nem se apercebam que as estão a cumprir, a mim fazem, tenho dificuldade em viver com elas. Não porque eu não goste de cumprir regras, mas sim porque não consigo ter mais nada em mente quando por exemplo me tento distrair. A única vez que em Luanda não cumpri o que seria o melhor para a minha segurança, fui assaltado, e a “negociação” do meu assalto demorou 45 minutos. Mas mesmo assim ainda fui um sortudo, pois negociei, há quem não tenha essa oportunidade, leve um tiro na testa ou uma catanada na nuca, sem ninguém se ter apercebido do que é que se passou. Há quem goste, pois que gostem, eu não! Decididamente não gosto de Luanda!
Abidjan, é completamente diferente. Há coisas que para nós europeus são mais ou menos normais, em determinadas zonas das maiores cidades europeias ou mundiais, há locais que não nos são permitidos, há sitios onde a atenção e a segurança tem que ser reforçada. Em Abidjan também é assim. A minha principal preocupação não é a minha segurança, tal como acontece em Luanda, consigo andar na rua distraido, consigo atravessar a rua ou um bairro sem sentir panico! Consigo entrar num restaurante ou bar repleto de locais sem sentir pavor! Consigo pedir o que me apetece sabendo que vou pagar o que toda a gente paga, com o serviço que toda a gente recebe! Consigo sair de um restauranre sozinho e apanhar um taxi para ir para o hotel! Absolutamente normal! As pessoas são muito simpaticas e hospitaleiras, esforçam-se para receber bem. Há pobreza, como por todo o lado, há pobreza como por toda a Africa, mas as pessoas não passam fome, há muita fruta disponivel e o mar também é acessivel a todos, as pessoas sabem e não se importam de trabalhar para conseguir os seus designios.
Também há riqueza como por toda a Africa, só que a ostentação da mesma riqueza não é tão evidente, os ricos também são mais discretos e quando comparados com os Angolanos, muito mais civilizados, menos arrogantes.
Decididamente gosto de Abidjan!
Uma das vantagens de viajar em trabalho, é que temos a possibilidade de contactar com o mundo real. Passamos pelas “mesmas” dificuldades e necessidades que aqueles que lá vivem passam. Contactamos com os que fazem “mexer” o país ou não. Não temos só acesso a areas restritas para turista ver. Temos a possibilidade de frequentar o que o turista normalmente frequenta e o que o nativo ou local nos mostra porque conhece, porque nós pedimos para nos mostrar. A imagem com que se fica é bem diferente daquela que recolhe alguém que vai passar umas ferias ao mesmo local.
Nunca saimos como entramos! Saimos sempre mais ricos, com mais uma visão do nosso mundo global, com mais experiencia, com mais saber, com mais amigos e conhecidos, com mais uma marca ou outra na nossa alma!
Desta vez trouxe mais algumas, mas a mais marcante foi o sorriso de uma miudinha de quatro ou cinco anos, que me oferecia o seu sorriso todos os dias de manhã de forma genuina em troca de coisa nenhuma. Quando eu decidi retribuir o sorriso com uma pequena lembrança, ela deixou de sorri, começou a fazer uma festa! O seu sorriso e a sua alegria está marcada no meu intimo. Quando os meus filhos me exigem o que quer que seja nem sorriem! Quando eu lhes dou até se esquecem de agradecer, quanto mais fazer uma festa!!! Amo os meus filhos mais do que tudo na vida, mas nunca mais vou esquecer o sorriso daquela miuda que nem sei o nome!
Não tenho ninguem que me tenha marcado em Luanda!

2 comentários:

  1. Também gostei muito! Eu já tive uma experiência idêntica....da qual nunca mais me esqueci.... (em cabo verde, claro!) Um menino pediu-me comida numa bomba de gasolina. Eu comprei um pacote de bolachas e de repente apareceram mais meninos, eram uns 4 ou 5, mas há sempre um que pede para o grupo enquanto os outros se escondem.... Como vi que estava com dificuldade em abrir o pacote, decidi ajudá-lo, os meus pais estavam comigo (tinham ido visitar-me)....assim que abri o pacote de bolachas o menino agradeceu e ofereceu a cada um de nós uma bolacha, só depois repartiu com os amigos. Achei LINDO e nunca me vou esquecer!
    CG

    Bjs

    ResponderEliminar
  2. Tens toda a razão em tudo o que me disseste, até chorei. Mas nós não fazemos festas nem agradecemos porque ficamos tão entusiasmado com as coisas que nem pensamos em agradecer, e também porque sabemos que vocês têm condições financeiras.

    ResponderEliminar