Há dois anos e pouco, fui confrontado de forma muito próxima com a única certeza que temos na vida :- a morte.
É estranho falar da morte. Na nossa cultura a morte é vivida com tristeza, logo o tema não é agradável!
Não quero falar da morte como algo triste e trágico, mas sim só, uma reflexão sobre o nosso destino certo que é ao mesmo tempo uma das pouquissimas coisas para a qual não temos nenhum tipo de preparação.
Cada Povo, cada cultura, tem o seu ritual próprio para o destino final. Nós fomos ensinados a viver o momento com muito sofrimento e tristeza. Há no entanto quem tenha um procedimento oposto e encare o facto como um motivo de festa, como algo que merece ser comemorado da mesma forma que é o nascimento.
O meu pai morreu há pouco mais de dois anos, a sua morte era mais ou menos esperada, todos sabíamos que não havia volta a dar. O cancro do pulmão, não lhe deu muitas chances, quando apareceu foi para lhe mostrar que contra factos não há argumentos.
Não sei se temos o destino traçado ou não, mas uma coisa é certa, há situações com as quais temos que conviver e que pouco ou nada podemos fazer para dar a volta por cima. Então assim sendo porque é que não aceitamos as coisas de forma simples, porque é que não nos conformamos com o que nos é apresentado pelo “destino”?
Deve fazer parte da natureza humana lutar. Lutar contra, mesmo sabendo à partida que as batalhas a travar vão ser muito difíceis, e que vencer uma batalha não significa vencer a guerra. Desde o ventre materno que nos é “ensinada” a luta pela sobrevivência!
O meu pai foi diferente. Lutou contra, mas sempre consciente que a guerra estava perdida. Tinha consciência perfeita que tinha sido ele a armar de forma poderosa aquele contra quem deveria de lutar, as armas que lhe tinha fornecido eram muito mais letais que as que ele próprio dispunha para o combater.
Este acto provavelmente reflectido, como penso terem sido todos os que se sucederam ao conhecimento da sua doença, fez me reflectir a cerca de outra questão.
Muitas das coisas que nos dão prazer na vida, são prejudiciais para a saúde. Muitos de nós tem dificuldade em abdicar de terminados prazeres, em prol de uma vida futura eventualmente mais saudável. Todos sabemos que para tudo na vida é preciso sorte, é com essa perspectiva, que nós os que não abdicam, pensamos em chegar a velhos, com sorte a maleita acontece aos outros. Não há duvida que esta é sempre uma possibilidade, não há duvidas também, que aqueles que abdicam, muitas vezes acabam por sofrer de doenças que tentaram evitar a vida toda. Pois, a vida é assim! Mas a minha questão é outra!
Com que armas, onde se vai buscar forças, para lutar contra alguma coisa que andamos a municiar a vida toda? O exemplo do meu pai. Fumou durante mais de cinquenta anos, a maior parte deles com perfeita consciência que o seu “prazer”, podia ser o seu carrasco. Como é depois de uma vida a confiar na sorte, quando ela a sorte, nos abandona, vamos arranjar forças para a voltar a encontrar, e nos ajudar a combater a maleita que alimentamos, sempre convencidos que a nós não nos tocava?
Não temos, nem devemos de nos resignar com o destino que nos calhou em sorte, mas se tal acontecer também é compreensivel!
Foi assim que tentei “compreender” o destino final de alguém que gozou a vida como quis e pode, e que sempre pensou que era mais importante viver com os prazeres que tinha ao seu alcance, do que com as privações e preocupações para fazer prolongar a sua vida, sujeito às incertezas que o destino lhe reservava!
A partida de alguém que nos é querido, é sempre difícil. Há duas coisas que aprendi neste processo:
1ª- Nunca estamos preparados para o que não desejamos. Por muita preparação que façamos previamente, e por muito que nisso acreditemos, quando a “coisa” é dada como certa, é cá um estalo!
2ª- Quando a nossa cabeça quer, mas quer mesmo muito, se não conseguirmos contornar o destino, pelo menos conseguimos com que se torne menos sofrido e mais prazeiroso!
A única certeza que temos na vida, é que um dia ela acaba para todos nós! Não há receitas para a viver, mas tenho para mim que quanto mais a gozarmos e mais nos satisfizermos, menos doloroso é o seu final!
Cada um acredita naquilo que quer…e que mais lhe convém!!!!
A morte ....??? a morte é sem duvida a pior sina, o pior final de episódio para o qual nunca estamos preparados, mesmo para aqueles que dizem que a morte é Santa. Se assim foce não choravam em pranto aquelas mães, e aqueles pais.
ResponderEliminarEu sei o que é perder ..... e é sem duvida a noite ao meio dia, é sem duvida a chuva no Verão, é sem duvida o amargo no doce. A morte é o fim e por mais que adjectivamos não há para além da morte, e por isso é o adeus infinito.
Para ti meu amigo um abraço e continua a enriquecer esta gente com boa escrita.
Cristiano Pires
Olá amigo,
ResponderEliminarAqui vai o meu primeiríssimo comentário...
A nossa má reação à morte de um ente querido é em parte proveniente do nosso egoísmo. Tal como tu, perdi o meu pai há dois anos... e sem aviso prévio... assim, click.
Que dor, que raiva, que ódio, que tristeza, que angústia, por não o ver mais,porquê ele, porque não outra pessoa qualquer, agora que ele estava tão bem de saúde...agora que ele poderia gozar mais uma pouco a vida os netos (5 e 1 anos).
Enfim, sofri violentamente durante um ano para aceitar a perda. A vontade de o ter sempre comigo, até ser velhinha. Porque ele foi o melhor pai, o melhor avô do mundo.
Só egoísmo, sabes porquê? Se ele não morresse vítima do ABC hemorrágico brutal que sofreu, seria durante "N" tempo um vegetal, do qual eu teria de cuidar, teria de deixar o meu emprego, e repartir o tempo dos meus filhos com ele. Eu acho que temos de ensinar os nossos filhos a aceitar a morte como única certeza da vida e parar de sofrer. (mesmo que tenhamos de dizer todos os dias que um dia nos vamos encontrar, pois é isso que eu quero MUITO).
Beijos
Gi
Não concordo com a frase de que quanto mais gozarmos a vida menos penoso será o final, porque simplesmente não sabemos como vão ser os últimos dias da nossa vida. Podemos sim ter mais ou menos arrependimentos, mas não podemos escolher como vamos para o outro lado (a não ser os que tiram a sua própria vida).
ResponderEliminarEu acredito que existe algo para além da vida terrena, um mistério que quando chegar a hora todos iremos desvendar, no entanto, não deixa de ser doloroso para os que ficam (os outros não sei) viver com saudades das pessoas que amaram. Faz parte da natureza humana o sofrimento, a tristeza que vamos alternando com momentos em que recordamos os bons tempos vividos em conjunto com essas pessoas que nos marcaram para a vida. Elas, apesar de ausentes fisicamente, têm sempre lugar no nosso coração e no nosso pensamento.