sexta-feira, 18 de junho de 2010

Os "A titulo póstumo" !

Isto não é para continuar!!! O meu ultimo post foi sobre a morte, este versa o mesmo tema, mas espero ser o ultimo!
Morreu o Saramago. Adoro ler, leio muito, mas não gosto da literatura do Saramago! Provavelmente sou pouco erudito, para tão afamado género literário. Verdade seja dita, só tentei ler um livro do Nobilíssimo José Saramago, mas o que tentei, não cheguei ao fim. Não consegui entender nada do que li.
Não é pelo facto de não gostar, que deixo de respeitar ou de admirar alguém que fez pela literatura e até mesmo pela cultura portuguesa, muito mais do que qualquer ministro ou representam da mesma, pelo mundo fora.
O que me motivou a escrever estas linhas, foi uma das minhas irritações de estimação.
As homenagens e honrarias a titulo póstumo. Não consigo entender a razão de tais actos. Para mim prestar homenagem a alguém, tem como condição o facto do homenageado estar presente, ou pelo menos ter conhecimento do dito acto. O acto de homenagear alguém, em meu entender, tem como principal propósito agradecer. Dizer obrigado a alguém que tem qualidades excepcionais em determinada área, e que as põe ao serviço ou disponibiliza aos outros. Ora, agradecer, dizer obrigado só faz sentido se a pessoa a quem agradecemos tem conhecimento desse mesmo reconhecimento.
De que serve agradecer a alguém depois de morto, se durante vida do mesmo nunca se teve uma palavra de conforto? De que serve mostrar reconhecimento do trabalho feito, a alguém que durante vida nunca se apercebeu que o seu trabalho era meritório?
Devemos, ou pelo menos quem quer, recordar os que foram excepcionais. Devemos de relembrar os que nos marcaram. Devemos aplicar os conhecimentos que essas pessoas nos passaram e dar a conhecer que foram os mesmos que nos ensinaram. Mas os agradecimentos, devem ser feitos aos próprios, só assim faz sentido, que os mesmo tenham conhecimento que os admiramos e que lhes estamos gratos por tudo o que fizeram por nós  ou nós ajudaram a fazer.
As homenagens e honrarias depois da morte, só servem os que cá ficam. Mas se os homenageados são os que partiram, significa que os referidos actos estão atrasados no tempo!
É dos vivos que temos que cuidar, porque pelos mortos já nada se pode fazer, já nada se pode alterar.
Vamos homenagear os vivos para os honrarmos depois de mortos.

2 comentários:

  1. Cada povo tem as suas tradições. Nós, portugueses e católicos, temos as nossas tradições judaico-cristãs, onde a morte é encarada como a passagem "entre vidas" e por isso deve ser devidamente "celebrada". Tal não invalida as homenagens durante a vida, evidentemente, mas cada coisa tem o seu lugar.

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  2. Ecrivain pas facile à aborder... le plus beau texte, je trouve, est le discours de réception du prix Nobel en 98: voici un extrait spécialement pour toi - un extrait qui me plaît beaucoup, je l'ai lu avec passion en francais.
    "Quando, à primeira luz da manhã, o canto dos pássaros me despertava, ele já não estava ali, tinha saído para o campo com os seus animais, deixando-me a dormir. Então levantava-me, dobrava a manta e, descalço (na aldeia andei sempre descalço até aos 14 anos), ainda com palhas agarradas ao cabelo, passava da parte cultivada do quintal para a outra onde se encontravam as pocilgas, ao lado da casa. Minha avó, já a pé antes do meu avô, punha-me na frente uma grande tijela de café com pedaços de pão e perguntava-me se tinha dormido bem. Se eu lhe contava algum mau sonho nascido das histórias do avô, ela sempre me tranquilizava : "Não faças caso, em sonhos não há firmeza". Pensava então que a minha avó, embora fosse também uma mulher muito sábia, não alcançava as alturas do meu avô, esse que, deitado debaixo da figueira, tendo ao lado o neto José, era capaz de pôr o universo em movimento apenas com duas palavras. Foi só muitos anos depois, quanto o meu avô já se tinha ido deste mundo e eu era um homem feito, que vim a compreender que a avó, afinal, também acreditava em sonhos. Outra coisa não podería significar que, estando ela sentada, uma noite, à porta da sua pobre casa, onde então vivia sozinha, a olhar as estrelas maiores e menores por cima da sua cabeça, tivesse dito estas palavras: "O mundo é tão bonito, e eu tenho tanta pena de morrer". Não disse medo de morrer, disse pena de morrer, como se a vida de pesado e contínuo trabalho que tinha sido a sua estivesse, naquele momento quase final, a receber a graça de uma suprema e derradeira despedida, a consolaçao da beleza revelada."
    Ma.

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