Nestas ultimas semanas, percorri umas centenas largas de quilómetros pelas estradas do rectângulo à beira mar plantado.
Há alguns anos que todos ouvimos falar de forma insistente, de prevenção rodoviária. É obrigatório fazer baixar a sinistralidade em Portugal. Esta afirmação é recorrente, especialmente na parte final do ano, na época das festas, natalícia e passagem de ano, não há meio de comunicação social que não dê ênfase às operações levadas a cabo pela forças policiais nas épocas onde potencialmente há mais viaturas a circular.
O certo, é que o sucesso das ditas campanhas e operações da GNR e PSP, tem sido muito pouco proveitoso. Se há um ano em que os resultados são menos drásticos, no ano seguinte os números desmentem a teorias proclamadas no ano anterior. Tudo porque, em minha opinião, ninguém quer efectivamente procurar uma forma de baixar os números trágicos. Os números são o preço a “pagar” por uma fonte de rendimento altíssima e que convém manter.
Desde o inicio do ano de 2011, tenho bem mais de dois mil quilómetros feitos ao volante. Por incrível que pareça, este ano não me cruzei, ultrapassei ou fui ultrapassado por viatura da ex-Brigada de Transito da GNR, pelo menos viatura reconhecida como tal.
A prevenção, tal como o nome indica, tem como objectivo evitar. Para prevenir, é preciso educar, alertar, sensibilizar. Não em parece que carros descaracterizados, com o objectivo de caçar os infractores seja um forma de prevenção. Não me parece que carros com radar, escondidos ou camuflados, sensibilizem as pessoas a não cometer infracções.
O problema é que os infractores, são uma grande fonte de rendimento! Se os governantes quisessem resolver o problema da sinistralidade em Portugal, já o tinha feito há muito tempo. O dinheiro investido em radares, pagaria muitos milhares de litros de gasóleo, para permitir que os carros patrulha andassem por ai à mostra, inibindo as pessoas de transgredir. Se os agentes da autoridade se mostrassem, mais “cuidadosos” seriam os automobilistas. É muito mais eficaz um carro da BT a passear na estrada, que um radar dissimulado atrás de uma placa. A diferença é que o carro, que inibe o potencial transgressor, só acarreta despesa. O radar, só dá lucro.
Acontece que se os condutores, não pagassem tantas multas, a fonte de rendimento do estado diminuía substancialmente. Mais de 1500 multas de excesso de velocidade por mês, detectadas nos radares fixos da cidade de Lisboa, é muito dinheiro, tendo em conta que a multa de valor mais baixo são 120 euros, a receita mensal ultrapassa os duzentos mil euros. Muito dinheiro, especialmente em tempo de crise.
Isto só para falar, nas multas, pois há mais uma serie de interessados em não resolver o problema. Muitas pessoas e entidades iriam ficar mais pobres sem os ganhos provenientes de tantos acidentes e infracções. Esta é sim a verdadeira razão para que todos os anos o balanço feito pelas autoridades oficiais seja trágico, sobre os danos causados por tantos criminosos que circulam nas nossas vias rodoviárias.
Em Portugal não há prevenção rodoviária, há sim umas campanhas que tentam fazer crer aos menos atentos, que o estado investe numa área que por razões puramente economicistas, há todo o interesse em não alterar. Quem tem por hábito prevaricar, não é por causa da publicidade em jornais, revistas ou outdoors que vai deixar de o fazer. Terá mais dificuldade em fazê-lo, se sentir que por perto, estará alguém que tem por função manter toda a gente dentro da lei.
Há problemas que não se resolvem, porque quem os poderia resolver não tem interesse na sua resolução. Este é um deles.
As multas também servem como factor dissuasor porque as pessoas pensam duas vezes em acelerar depois de terem pago alguma multa, principalmente se lhes pesar na carteira! Para além disso, a passagem de boca em boca sobre os possíveis sítios de radares também costuma ter esse efeito, por isso não é de todo inapropriado como medida para restringir certos comportamentos. No entanto, para transmitir as atitudes adequadas na estrada servem as campanhas publicitárias.
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