sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A minha indignação!

À Administração do  ...............................



Exmos. Senhores,

Chamo-me ................... e sou utente do SNS com o n.º .................
Fui contactado via telefone no dia 10/02/2011 por volta das 15:00 horas pelos serviços do ....... para me apresentar na sala de espera do piso 3, serviço de Cirurgia B às 9:00 horas do dia 15/02. Iria fazer uma cirurgia .............!

No dia marcado, cheguei um pouco mais cedo.

1.º FACTO ANORMAL: Entrei no hospital sem qualquer identificação, bastando dizer a um segurança que vinha para uma cirurgia. “Passiei-me” pelos corredores como bem entendi! Uma pessoa com maus instintos poderia ter quebrado a rotina do hospital, poderia ter provocado o caus! Não pode ser tão fácil entrar dentro de uma unidade de saúde com tanta responsabilidade para com a sociedade civil. Só pessoas devidamente identificadas e autorizadas deveriam poder entrar num local tão sensível.

2.º FACTO ANORMAL: Na chegada ao hospital não houve e pelos vistos não há, ninguém para receber os doentes, as pessoas chegam e esperam. Esperam porque são educadas, como tal aguardam sem nada saber, não há ninguém que lhes explique o que se vai passar. A minha primeira espera foi de 2 horas, caso os responsáveis desta unidade de saúde não saibam o tempo de espera dentro de um hospital, sem informação, causa uma ansiedade que a partir de uma determinada altura se descontrola e passa a desespero. Não é correcto, para não dizer desumano, que alguém entre dentro do hospital para uma intervenção cirúrgica programada, não possa saber no dia anterior (fiz o contacto telefónico) e no próprio dia até às 16:00 horas, se ficaria internado ou não, parece-me ser “só”uma questão de má vontade. Caso não se tenham apercebido, para alguns pacientes é recomendado que venham acompanhados, essa companhia, normalmente, é alguém que tem de faltar ao trabalho. Imagino que os responsáveis deste hospital não gostem que os seus funcionários faltem ao trabalho sem mais nem menos. Seria aconselhável que a recepção no hospital fosse feita por alguém que pudesse elucidar os doentes e os seus acompanhantes sobre o seu percurso na unidade hospitalar, fornecendo-lhes a maior informação possível, no sentido de os tranquilizar, evitando assim especulações e estados de ansiedade que prejudicam os próprios durante o acto médico a que vão ser submetidos, dificultando a actividade dos profissionais no hospital e causando mau ambiente nos locais por onde circulam. Seria também aconselhável uma melhor análise dos timmings necessários, especialmente para os tempos de espera antes das intervenções, evitando dessa forma um nervosismo exagerado por parte dos doentes e dos seus acompanhantes, quando se apercebem que faltaram ao seu emprego para estarem sentados à espera.

3.º FACTO MUITO ANORMAL: Tendo em conta que os serviços do hospital me marcaram a cirurgia para o 7.º (último) tempo da tarde, tendo em conta que tinha realizado uma cirurgia no mês de Dezembro, tendo em conta que tenho comigo todos os exames referentes a essa cirurgia, não consigo entender porque me mandaram apresentar no hospital às 9:00 horas do dia da minha cirurgia. O meu tempo de espera total, ou seja, desde que me apresentei às 9:00 horas até ser recebido no serviço de cirurgia ambulatório, foi de SETE (7) horas. Será que quem manda fazer estes disparates, tem a noção de qual é o estado de espírito de alguém que espera SETE (7) horas sem qualquer informação? Posso garantir, não só pela minha experiência, mas também por ter assistido à evolução dos 5 doentes que me acompanharam em todo este processo, que quem espera durante tanto tempo DESESPERA! Uma palavra, uma informação será o suficiente para manter a tranquilidade de quem por, dadas as circunstâncias, já se encontra intranquilo.

4.º FACTO EXTRAORDINARIAMENTE ANORMAL: Fui intervencionado no dia 15/02, entrei no bloco operatório às 20:45 (12 horas depois de ter entrado no hospital!!!). No dia 16/02, depois de ter sido observado por uma das médicas que participou na minha cirurgia, foi-me decretada alta médica. Na conversa com a médica referi um sintoma que, pelo que me foi dado a entender, apesar de normal, ou ser uma situação que possa ocorrer no tipo de intervenção que fui sujeito, era extremamente intenso no meu caso em particular. No entanto era expectável que o mesmo efeito colateral se fosse desvanecendo até à hora de eu poder sair do hospital (12:00 horas do dia 16/02). Como isso não aconteceu, por volta das 11:30 alertei o pessoal da enfermagem para a situação. A enfermeira com quem falei, pertencente ao serviço de Ginecologia, prontamente chamou uma médica para que eu voltasse a ser reavaliado e então fosse decidido qual seria o meu futuro. O extraordinário é que o médico chegou QUATRO (4) horas depois. Não é humano que alguém espere 4 horas para uma avaliação que foi feita em 2 minutos e que poderia com um pouco de boa vontade e melhor organização dos serviços ter sido feita algumas horas antes, evitando o mau estar provocado ao doente e evitando também que a acompanhante do doente tivesse necessidade de faltar tanto tempo ao trabalho. Uma melhor e mais exigente coordenação evitaria que este tipo de situações causassem má fama a um serviço que tem bons profissionais, evitaria também o nervosismo que acaba por ser causado a todos os que rodeiam o doente, outros doentes, pessoal de enfermagem e auxiliares. São situações facilmente evitáveis.

5.º FACTO EXTRAORDINÁRIO: O que deveria ser uma regra é no entanto extraordinário. Há neste hospital alguns excelentes profissionais. Desde que entrei no serviço de Cirurgia Ambulatória até ao meu internamento no serviço de Ginecologia, os profissionais com quem convivi foram profissionais na verdadeira acepção da palavra, a componente humana nunca foi dissociada do acto praticado. Não há “ninguém” que goste de estar num hospital como doente ou como acompanhante de um doente. É função da instituição de saúde é tratar da dor e do sofrimento. Da dor física e da “dor psiquica”. Ao ignorarem as pessoas, ao desumanizarem um hospital, a dificuldade em curar a dor física aumenta substancialmente, porque o ser humano “faz” reagir o seu organismo em função do seu estado de espírito! Todos, mas mesmo todos sem excepção, os profissionais com que interagi e me assistiram no serviço de Cirurgia Ambulatória, no Bloco Operatório, no Recobro e no serviço de Ginecologia no 3º piso, são profissionais  louváveis. Seres humanos que se esforçam por dar o seu melhor, tentando aliviar o sofrimento de outros seres humanos que infelizmente, além de cuidados médicos, também muitos deles, precisam de cuidados psíquicos. “A César o que é de César”

Não é HUMANO que alguém permaneça dentro de um hospital 7 horas sem qualquer informação sobre o seu estado ou sobre o seu futuro.

Não é HUMANO que alguém espere dentro de um hospital 4 horas pela visita de um médico quando há “dezenas” a trinta segundos do local.

Há outras formas de racionalizar custos, de rentabilizar um hospital, sem cortar ou descoroar o essencial, os doentes.  

A forma como os doentes são tratados dentro de um hospital, o carinho e a atenção que lhes é dispensada é medicação fundamental para a sua cura. Quem trabalhar num hospital e não perceber isto, deveria dedicar-se à agricultura, mas terá que ser no Farmville (agricultura virtual) porque na agricultura real também não irá ter sucesso, pois também as plantas verdadeiras precisam de carinho e atenção.

Quero realçar de forma veemente o carinho, a atenção e o profissionalismo que me foi dedicado e aos doentes que estiveram ao meu lado, pelo serviço de Cirurgia Ambulatório, dentro do Bloco Operatório, no Recobro e no serviço de Ginecologia no 3º piso.

Quero manifestar de forme veemente a minha indignação, a minha reprovação como administrativamente o hospital é dirigido, sem a sensibilidade para o facto de se tratar de um hospital. Apesar de ser uma empresa, esta em concreto não tem que dar lucro! A vida humana não tem preço! No dia em que se fizerem contas para saber se é rentável ou não salvar alguém, o mundo está virado de pernas para o ar. Pois quem as fizer irá perceber, que a vida das pessoas que gosta, tem um preço que dinheiro nenhum no mundo conseguirá pagar, enquanto a vida dos que nada lhe dizem, quaisqueres trocados a poderão pagar! A questão está que os “preços” vão mudando conforme quem for fazendo as contas! Como tal é melhor que nunca sejam feitas, e sejamos todos tratados segundos os mesmos principios e com a mesma equidade. Pode-se deixar de regar o jardim ou as plantas do hospital, pode-se limitar o combustível que alimenta os carros dos dirigentes, podem-se limitar, racionalizar as mordomias da classe dirigente, podem-se racionalizar alguns custos, podem-se evitar gastos superfulos.
NÃO SE PODE DEIXAR DE “REGAR” COM CARINHO OS DOENTES!

NÃO SE PODE DEIXAR DE ALIMENTAR COM ESPERANÇA OS QUE ESTÃO ENFERMOS OU VÃO FICAR!

NÃO SE PODE RACIONALIZAR OU LIMITAR O BEM ESTAR DE QUEM ENTRA NUM HOSPITAL PORQUE ESTÁ DOENTE!

Os doentes que passam por este tipo de cortes ou racionalizações ficam mais longe da cura, têm mais dificuldade em aliviar o seu sofrimento.

A função de uma unidade hospitalar é curar ou aliviar o sofrimento dos seus pacientes.

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