Conforme vamos crescendo, na idade, vamos adequando a nossa forma de pensar á realidade com a qual nos confrontamos. A forma como pensamos é sempre resultado de todas as nossas vivências, de todas as experiências por que vamos passando, umas com mais êxito outras nem tanto. Mas são elas que nos tornam naquilo que realmente somos.
Nestes anos que levo a tentar gozar o facto de cá andar, tenho tido algumas vivências que tem feito com que tenha também mudado a minha forma de pensar de uma maneira mais repentina.
Há uns anos atrás, fui solicitado para fazer uma viagem de trabalho ao Banco Central da Republica Democrática do Congo. Foi provavelmente o meu primeiro grande ponto de viragem, de forma consciente. Sim, porque há aqueles que nos fazem alterar o nosso rumo, mas nós nem nos apercebemos. Esta viagem foi a primeira, que realmente me pôs a pensar!
Quando me foi perguntado se eu queria ir durante sete dias a Kinshasa, tive conhecimento de que trabalho especifico iria lá fazer, qual a razão porque me estava a ser solicitado a mim, e as condições logísticas para a realização do mesmo.
Ao tempo, a minha experiência, neste tipo de viagens era praticamente inexistente. Viajar para África era uma aventura, ainda hoje é, mas na época, era praticamente um salto no escuro. Estou a falar de há dez anos atrás, a diferença parece pouca, mas acreditem é enormíssima.
Quando cheguei ao aeroporto de Kinshasa, depois de um dia de viagem, tinha saído na véspera de casa viajei via Paris num o voo entre França e a Rep. Dem. do Congo com cerca de dez horas lá em cima, tinha um fulano com uma ardósia da coca-cola, aquelas que costumam estar nos snack bares e onde está escrita a ementa do dia, onde se fazia ler o nome do sujeito que o portador da dita ardósia, esperava. Achei tanta piada à originalidade, que só quando a sala VIP do aeroporto estava praticamente vazia e não encontrava ninguém à minha espera como era suposto, li o que estava escrito na placa tão original: Mr. Duarte. Eu próprio!!!!!
Cheguei a Kinshasa em dia do meu próprio aniversário, já noite, fizeram-me instalar no melhor hotel da cidade, Hotel Interconti. O protocolo do Banco, foi exemplar, sim porque em África, normalmente as entidades publicas tem um departamento de protocolo que se ocupa dos visitantes, e que tudo tenta (no meu caso pessoal) fazer para tornar mais fácil a vida de quem os visita.
Das varias coisas que me marcaram, a que deixou marcas mais profundas, foi o constatante contacto entre dois mundos. O mundo de quem tem tudo, mas mesmo tudo! E o mundo de quem não tem nada, mas mesmo nada, e que só quem passa por ele sabe o que é!
A minha dormida (e só dormida, excluindo as refeições que também lá fazia) no hotel, custava a modica quantia de 275 Dolares Americanos, pagos pelo Banco Central do Congo. Quem iria passar o cheque da minha estadia, recebia de ordenado mensal o equivalente ao valor de uma refeição minha no hotel, onde o repasto era Pizza acompanhado de uma cerveja, ou seja aproximadamente 40 USD.
Uma cerveja, que tinha como preço 5 USD, era servida por um empregado aprumado, que cumpria todas as regras de etiqueta e gentileza, mas recebia por mês o equivalente ao meu consumo por refeição da referida bebida, três cervejas!
Um dos exercícios mentais que fiz quando me vim embora, e ainda hoje dou como exemplo, tem a ver com o esforço que um trabalhador assalariado, com rendimento médio,na Rep. Dem do Congo, tem que fazer para poder comer uma Pizza. O equivalente, ao que um individuo a trabalhar em Portugal, e que ganhe o ordenado mínimo, tem que fazer para levar um(a) acompanhante ao Casino do Estoril onde irá oferecer o jantar e o espectáculo no Salão Preto e Prata!
Uma pizza, o equivalente a um mês de ordenado!!!!
Não temos o direito de nos queixarmos daquilo que a vida nos tem proporcionado!
Só necessitamos do que conhecemos!
Provavelmente conhecemos “demais”!!
Devíamos pensar duas vezes antes de nos queixarmos, na maior parte das situações são meros contratempos comparados com os reais problemas de milhões de pessoas que vivem em condições miseráveis. Se nos lembrássemos dessas pessoas constatávamos que não tínhamos o direito de reclamar da vida, mas estamos constantemente a compararmo-nos com o número limitadíssimo de pessoas que julgamos ter melhores condições que nós e por vezes desconhecemos completamente qual a verdadeira vida que levam. É normal querer mais, desejar o melhor para aquelas pessoas que são importantes para nós, mas não podemos esquecer e não dar valor ao que temos, porque isso pode ter um significado imensurável para alguém que não tem, de facto, nada e não tem qualquer hipótese de alguma vez vir a ter!
ResponderEliminarEste tipo de cenário comove sempre e faz-nos sentir que temos tudo. Mas como diz a sabedoria popular «nem tanto ao mar nem tanto à terra». E como digo não nos devemos comparar com o pior mas sim com o melhor pois enquanto houver alguém melhor que nós teremos o que exigir, pelo que trabalhar e o que alcançar. Ao contrário, se olhamos para baixo acontece-nos o mesmo que aos que têm vertigens: somos atraídos e caímos!
ResponderEliminarDe qualquer modo, concordo que a maioria de nós tem muitas bençãos que não valoriza.
Pois eu, que sou tida como refilona e uma eterna descontente digo: sou abençoada!
Sabes qual o maior bem que temos? Saúde. Vai ao IPO (principalmente a área das crianças) ou aos Cuidados Intensivos do Hospital D. Estefânia.
ResponderEliminarAgradece todos os dias o facto de teres saúde para trabalhares e puderes sustentar os teus filhos. Agradece todos os dias o facto de serem saudáveis. O Mundo é um sistema corrupto. Desde os laboratórios farmacêuticos, até as guerras existentes em África ou no Médio Oriente. E assim, irá continuar. Inustiças, oportunismos, os fortes a "pisarem" cada vez mais os indefesos.
Todos se podem queixar do que quiserem. Dependendo da tua sensibilidade/vivência podes ou não fazer "ouvidos de mercador".
Tu saberás o que deves Agradecer.
Eu estou Grata por tudo o que a Vida me tem proporcionado. Mesmo os momentos com Dor.
Aquele abraço
Gui